Se todos somos igualmente marcados pelo pecado, tanto
potencialmente como na prática, a discriminação por razões morais e religiosas
contra, por exemplo, os gays, torna-se ridícula e hipócrita, além de
acrescentar mais um pecado ao nosso vergonhoso currículo moral. Além do mais, a
oposição que alguns fazem à homossexualidade não é educada, inteligente,
coerente e caridosa. Há casos de agressão verbal e física. Em algumas vertentes
muçulmanas acentuadamente fundamentalistas, os homossexuais podem ser
condenados à morte. Nem todos os prisioneiros dos muitos campos de concentração
eram judeus ou inimigos do regime nazista — alguns eram apenas homossexuais.
Em contrapartida, os homossexuais não podem dar lugar à
heterofobia. Eles podem sair do armário sem pretender colocar os héteros nos
armários vazios. A sociedade precisa enxergar esse processo em andamento. Se os
homossexuais podem defender a bandeira da homossexualidade, por que os heterossexuais
não podem defender a bandeira da heterossexualidade?
Se a consciência de um homossexual não o deixar em paz,
apesar do apoio ostensivo da mídia, de alguns profissionais da saúde e até de
alguns líderes religiosos, por que não se pode dar a ele auxílio psicológico ou
pastoral, caso a pessoa espontaneamente o deseje? Se uma igreja se recusa a
celebrar um casamento gay ou ordenar um padre ou pastor homossexual, por que
zombar, perseguir, multar ou prender o responsável por esse comportamento,
exigido por seu credo? Os homos querem liberdade de pensamento e de ação. O
mesmo acontece com os héteros.
A prática homossexual é condenada pelas três religiões
monoteístas do planeta: o cristianismo, o judaísmo e o islamismo. No caso dos
protestantes, enquanto eles se conservarem fiéis às Escrituras Sagradas, sua
única regra de fé e prática, a conduta homossexual será considerada um desvio
sexual. Entretanto, os cristãos horrorizados com a homossexualidade se obrigam
pela mesma Bíblia a ficar horrorizados também com o adultério, com a
hipocrisia, com o roubo, com o egocentrismo, com a soberba, com a
incredulidade, com a inveja, com a violência, com a berrante injustiça social e
daí por diante. E com a mesma intensidade!
Fonte: Revista Ultimato, Edição
325, de julho/Agosto de 2010.