O PT nem inventou a corrupção
nem a inaugurou no Brasil. Mas só o partido ousou, entre nós, transformá-la
numa categoria de pensamento e numa teoria do poder. E isso faz a diferença. O
partido é caudatário do relativismo moral da esquerda. Na democracia, sua
divisa pode ser assim sintetizada: "Aos amigos tudo, menos a lei; aos
inimigos, nada, nem a lei". Para ter futuro, é preciso ter memória.
Eliana
Tranchesi foi presa em 2005 e em 2009. Em 2008, foi a vez de Celso Pitta,
surpreendido em casa, de pijama. Daniel Dantas, no mesmo ano, foi exibido de
algemas. ... Lula batia no peito: "Nunca antes na história deste país se prendeu
tanto". Era a PF em ritmo de "Os Ricos Também Choram".
Até que
chegou a hora de a trinca de criminosos do PT pagar a pena na Papuda. Aí tudo
mudou. O gozo persecutório cedeu à retórica humanista e condoreira. Acusam a
truculência de Joaquim Barbosa e a espetacularização das prisões, mas não
citam, porque não há, uma só lei que tenha sido violada. Cadê o código, o
artigo, o parágrafo, o inciso, a alínea? Não vem nada.
Essa
mentalidade tem história. Num texto intitulado "A moral deles e a
nossa", Trotsky explica por que os bolcheviques podem, e devem!, cometer
crimes, inaceitáveis apenas para seus inimigos. Ele imagina um
"moralista" a lhe indagar se, na luta contra os capitalistas, todos
os meios são admissíveis, inclusive "a mentira, a conspiração, a traição e
o assassinato".
E
responde: "Admissíveis e obrigatórios são todos os meios, e só eles, que
unam o proletariado revolucionário, que encham seu coração com uma inegociável
hostilidade à opressão, que lhe ensinem a desprezar a moral oficial ...".
O texto
é de 1938. Dois anos depois, um agente de Stalin infiltrado em seu séquito
meteu-lhe uma picaretada no crânio. Sinistra e ironicamente, a exemplo de
Robespierre, ele havia escrito a justificativa (a)moral da própria morte ...
José
Dirceu quer trabalhar. O "consultor de empresas privadas" não precisa
de dinheiro. Precisa é de um hotel. Poderia fazer uma camiseta: "Não é
pelos R$ 20 mil!". Paulo de Abreu (empresário também do ramo de
comunicações, acréscimo feito pelo titular deste blog), que lhe ofereceu o, vá
lá, emprego, ganhou, nesta semana, o direito de transferir de Francisco Morato
para a avenida Paulista antena da sua Top TV, informou Júlia Borba nesta Folha.
O governo tomou a decisão contra parecer técnico da Anatel, com quem Abreu tem
um contencioso razoável. Dizer o quê? Lembrando adágio famoso, os petistas não
aprenderam nada nem esqueceram nada.
Aos
amigos, tudo, menos a lei. Aos inimigos, José Eduardo Cardozo, Ministro da
Justiça e o Cade, Conselho Administrativo de Defesa Econômica, órgão vinculado
ao Ministério da Justiça. É a moral deles.
Reinaldo Azevedo, jornalista, é colunista Folha e autor de um blog na “Veja”. Escreveu entre outros livros, “Contra o Consenso” (Ed. Baracuda), “O País dos Petralhas” (Ed. Record) e” Máximas de um País Mínimo” (Ed. Record). Escreve às sextas-feiras.