Lênin chegou ao STF pela via cartorial.
O ministro Luís Roberto Barroso concedeu uma impressionante entrevista à Folha de
domingo. Afirmou: "Em tese, não considero inconstitucional em toda e
qualquer hipótese a doação [a campanhas eleitorais] por empresa" ...
Tivesse uma câmera na mão, Barroso
seria cineasta, já que não lhe faltam más ideias na cabeça... Fosse por
ideologia, ... Será que o PT d'antanho teria conseguido se financiar caso as
empresas fizessem uma triagem puramente ideológica? E se vigesse o
financiamento público? O partido teria deixado de ser nanico?
Só houve alternância no poder – do PSDB
para o PT– porque doações não foram feitas por ideologia. De resto, gente
achacada, com medo ou em busca de favores não assina recibo. Pior será o modelo
do ministro. Se achaque houver, não deixará nem pistas. Eis Barroso, que agora tem uma nova causa: descriminalizar as drogas. Entendo.
Quando o assunto é maconha e cocaína, ele acha que a proibição induz ao crime;
quando é doação eleitoral, ele acha que a proibição induz à virtude.
Como ignorar que os verdadeiros autores
da ADIN pertencem a um grupo liderado pelo próprio ministro? A OAB foi uma
espécie de laranja da causa. Refiro-me a Daniel Sarmento, professor de Direito
Constitucional da Uerj, área comandada por Barroso, e Eduardo Mendonça, que já
foi seu sócio e hoje é seu assessor no STF. O ministro julgou de dia uma causa
que ajudou a patrocinar à noite. E não se declarou impedido! Aéticos, para ele,
são os políticos.
Mas Barroso é um queridinho da imprensa
"progressista". Abraça todas as teses
politicamente corretas das esquerdas atomizadas de hoje em dia: casamento gay,
descriminalização das drogas, cotas raciais, aborto... Condenar fetos, que
não podem correr, à sucção e à cureta é visto nestes tempos como prova de
grande coragem. Quanta valentia a risco zero!
Na Folha, o homem ensaia um
voo teórico: "É preciso interpretar [a história] e fazê-la andar... Lênin,
então, lançou a tese da "aceleração da história", ora abraçada pelo
valente. O ministro está dizendo que cabe ao STF tomar o lugar da sociedade e
do Congresso.
Na semana que vem, voltarei à questão.
Barroso é, no STF, a vanguarda de um atraso que tem história: a substituição do
povo por um ente de razão chamado "partido". Esse homem
"moderno" é um tipo que só prospera hoje em dia na América Latina. É
vanguarda, sim, mas do fim do século 19 e início do 20. Em democracias que se
respeitam, seria tangido da corte suprema a varadas – metafóricas claro!
Ministro do STF que acredita ser sua missão "empurrar a história" ...
Reinaldo Azevedo, jornalista, é
colunista Folha e autor de um blog na “Veja”. Escreveu entre outros livros,
“Contra o Consenso” (Ed. Baracuda), “O País dos Petralhas” (Ed. Record) e”
Máximas de um País Mínimo” (Ed. Record). Escreve às sextas-feiras.