às 5:56
Pesquisa
Datafolha feita na quarta e na quinta mostra que 61% dos eleitores brasileiros
são contra o voto obrigatório. É uma coisa boa em si. Só não escrevo que é um
“bom sinal” porque isso necessariamente quereria dizer que vejo aí um sintoma
de algo maior e mais importante. Não tenho dados para tanto. O meu ponto é
outro: sempre que a população conclui,
na sua maioria ao menos, que um direito não se impõe e que não se pode punir
alguém por não exercê-lo, acho que se está no bom caminho. A ideia de que a
democracia deva obrigar alguém a votar é uma estupidez, um contrassenso.
Os
números do Datafolha são absolutamente coerentes com a realidade da vida.
Vejam.
Quanto
maior a escolaridade, maior é a rejeição à imposição: 53% (ensino fundamental),
63% (ensino médio) e 71% (ensino superior). A opinião contrária à
obrigatoriedade também aumenta de acordo com a renda: 64% (até dois salários
mínimos); 66% (de 2 a 5); 68% (de 5 a 10); 71% (mais de 10). Que se note: o
repúdio é grande em todas essas categorias, mas é maior, como era de se
esperar, entre os mais instruídos e mais prósperos. Essas pessoas são sempre
mais intolerantes com os arroubos autoritários do estado.
A reportagem da Folha ouve dois analistas
sobre os números. Um vê uma manifestação de “descrença preocupante”. Outro acha
que o eleitor se sente impotente diante do poder público. Eu não acho nada
disso. Penso que o eleitor descobriu que
não faz sentido que um ato de vontade seja imposto pelo chicote estatal, ora
bolas!
A
obrigatoriedade e a afinidade eletiva
Vejam
o que acontece quando os números são filtrados pelas afinidades eletivas: os
eleitores de Dilma são os mais conformados com o voto obrigatório — não por
acaso, na pesquisa eleitoral, ela lidera entre os mais pobres e menos
instruídos (por enquanto ao menos). Gente menos informada e mais exposta ao
arbítrio de terceiros acaba sendo mais tolerante com as imposições do Estado. A
rejeição aumenta bastante entre os eleitores de Aécio Neves e Eduardo Campos.
Esse dado, diga-se, desautoriza a tal hipótese da “descrença”: ora, justamente
o grupo que está apostando na mudança — e, portanto, alimenta a crença numa
reviravolta política — é mais refratário à obrigatoriedade.E
que se note: eu torço para Dilma perder a eleição — e não vejo por que alguém
deva inferir o contrário. Olhando os números, pode-se pensar que o voto
volitivo acabaria sendo ruim para Aécio e Campos já que seus respectivos
eleitorados são os que mais rejeitam o voto obrigatório. Ocorre que uma coisa
não implica outra. Ser contra a obrigatoriedade não é sinônimo de não querer
votar.A
propósito: a imposição do voto não deixa
de ser uma espécie de conforto para os políticos brasileiros. Seria útil à
democracia, à população é à política que eles fossem compelidos a convencer o
eleitorado de que vale, sim, a pena EXERCER UM DIREITO.
Por Reinaldo
Azevedo