o
Blog
Reinaldo Azevedo
06/09/2014
às 6:37
Paulo Roberto conta como funcionava o propinoduto que atuava na
Petrobras e dá os nomes
Entre
2004 e 2012, Paulo Roberto Costa foi diretor de Abastecimento e Refino da
Petrobras. Ocupou, portanto, esse cargo, em sete dos oito anos do governo Lula
e em quase dois do governo Dilma. Ao longo desse tempo, comandou o que pode ser
chamado de “Petrolão” — ou o mensalão da Petrobras. As empreiteiras que faziam
negócio com a estatal pagavam propina ao esquema e o dinheiro era repassado a
políticos. A quais? Paulo Roberto já entregou à Polícia Federal e ao Ministério
Público, num acordo de delação premiada, os nomes de três governadores, de um
ministro de estado, de um ex-ministro, de seis senadores, de 25 deputados e de
um secretário de finanças de um partido. Segundo o engenheiro, Lula sempre
soube de tudo. E, até onde se pode perceber por seu depoimento, talvez a presidente
Dilma — que era a chefona da área de energia do governo Lula e presidente do
Conselho da Petrobras — não vivesse na ignorância. Paulo Roberto diz que a
compra da refinaria de Pasadena foi, sim, fraudulenta e serviu para alimentar o
esquema.
VEJA
teve acesso a parte do depoimento de Paulo Roberto e traz reportagens
exclusivas na edição desta semana, com a lista dos nomes citados por Paulo
Roberto. Entre eles, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Camposa governadora
do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), e Sérgio Cabral, ex-governador do Rio
(PMDB). Paulo Roberto acusa ainda Edison Lobão, atual ministro das Minas e
Energia, e atinge o coração do Congresso: estão em sua lista os presidentes da
Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL).
PT,
PMDB e PP seriam os três beneficiários do esquema, que teria também como
contemplados os senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e Romero Jucá (PMDB-RR), e os
deputados João Pizzolatti (PP-SC) e Candido Vaccarezza (PT-SP), que já havia
aparecido como um dos políticos envolvidos com o doleiro Alberto Youssef, que
era quem viabilizava as operações de distribuição de dinheiro. Mas há muitos
outros, como vocês poderão constatar nas reportagens de VEJA, como Mário
Negromonte, ex-ministro das Cidades, do PP da Bahia.
Lula
e Dilma não quiseram se pronunciar a respeito. Os demais negam envolvimento com
Paulo Roberto. Um dos nomes da lista feita pelo engenheiro é João Vaccari Neto,
o homem que cuida do dinheiro do PT. É secretário de Finanças do partido. Ele
é, vejam a ironia da coisa, o substituto de Delúbio Soares. Não é a primeira
vez que seu nome frequenta o rol de envolvidos em escândalos.
Paulo
Roberto tem noção da gravidade de suas acusações. Tanto é que, quando ainda
hesitava em fazer a delação premiada, cravou a frase: “Se eu falar, não vai ter eleição”.
E
por que falou? A interlocutores, ele diz que não quer acabar como Marcos
Valério, que ficará por muitos anos na cadeia, enquanto os chefões políticos do
mensalão já se preparam para viver dias felizes fora do xadrez. O homem também
está muito magoado com a presidente Dilma.
A
situação de Dilma, obviamente, é mais grave: afinal, ela era a czarina do setor
energético, ao qual pertence a Petrobras. Presidia também o seu conselho. Deu
um empregão para Nestor Cerveró, o homem que ajudou a viabilizar a compra de
Pasadena, que Paulo Roberto agora diz ter sido fraudulenta.
Paulo
Roberto ainda está preso. Ele se comprometeu a abrir mão dos bens que acumulou
em razão do esquema fraudulento e a pagar uma multa. As pessoas que atuam na
investigação têm agora de confrontar suas informações com outras provas
colhidas, com o objetivo de verificar se suas informações são procedentes. Se
forem e se ele realmente ajudar a desbaratar um esquema de falcatruas bilionárias,
pode até ganhar a liberdade.
A República treme.
Por Reinaldo Azevedo