Maria Angela Mirault, Mulher, mãe, avó, professora
Não
pode ser. Tanta luta, tantos imbróglios, suor e canseira muitos anos depois das
feministas (Deus nos livre) revogarem a condição ecológica-biológica-feminina e
nos igualarem aos machos da espécie humana, pra gente comemorar o dia da
mulher? O mês da mulher? Faça-me o favor...
Os gêneros não são gêneros por acaso. Embora,
iguais em espécime, macho e fêmea traçam diferenças irreconciliáveis, em todas
as espécies; um pári, outro, não; um gesta, outro, não, só pra ficar por aí.
Homem e mulher não são iguais, ponto, entendeu, ou quer que desenhe? Em
raríssimas exceções da natureza (cavalo-marinho, p.ex.), cabe à fêmea gestar,
parir e cuidar da sua cria, dela se afastando, quando a natureza propõe outras
demandas para o ser que ajudou a trazer à luz.
Quando
a luta das feministas saiu das ruas e entrou em nossas casas, só nos faltou uma
coisa: bom senso. Abdicar da condição feminina pra assumir papéis e funções
masculinas, relegando a terceiros sua obrigação de guardar, cuidar, proteger,
educar seus rebentos, deu no que deu. Nossa geração deixou ao léu sua
progenitura, delegando a sei lá quem sua obrigação; por isso, tanto filho da
... por aí. Essa reflexão a mulherzinha bem-sucedida não faz e vai deixando
marcas da sua omissão pelas esquinas do mundo. Quem foi professor, quem é
professor tem se deparado com essa lacuna na formação da criança, do jovem e do
adulto. Quem é docente de universidades, pode bem distinguir quem teve mãe e
quem foi deixado à beira do caminho, sem qualquer formação e princípios que só
cabem (e só) ao núcleo familiar fornecer.
Tudo
bem, fomos pras ruas, pros escritórios, pros tribunais; saímos da cozinha.
Exigimos nossos direitos, subimos no salto e exigimos respeito, mas, quando a
coisa aperta, apelamos para nossa condição de fragilidade.
Esquizofrênicas,
adoramos e consumimos milhares de exemplares dos “50 tons de cinza”,
cumpliciadas com o sadomasoquismo explícito e indecoroso, mas, quando vitimadas
pelo homem, o filho da..., que não teve mãe, e nos assedia, valemo-nos, como
vestais, da “maria-da-penha”. Valha-me Deus! Não comemoro o dia da mulher,
abomino essa “conquista” capital de mercado.
Envergonho-me dessas mensagens ridículas das
redes sociais, das publicidades, dos telemarketing. O dia da mulher não é
simplesmente o dia 8, nem o mês da mulher o mês de março. São todos os dias;
ela reina soberana pelo reino e em todo o tempo, para o bem e para o mal.
Porque há, sim, minha gente, mulherezinhas de doer, “pior” do que muito macho
alfa. Trazemos no DNA da condição de ser mulher, junto com as curvas, a TPM, o
nhe-nhe-nhê, o mimimi, o balaco-baco, a ardilosidade, a sedução, a ambiguidade
e a maldade. Quem nunca esteve nas mãos de um tipo desses, que levante a mão.
Como mulher, conheço de todo o tipo, pior, identifico-os.
Os homens, (coitados?), são e sempre agirão
com o repertório adquirido das mulheres que enxamearam sua vida: mãe, vó,
irmã, tia, vizinha, namorada, esposa, colega... De novo, para o bem e para o
mal. Veja bem, atrás de um apenado da “maria-da-penha” tem uma mulher que lhe
treinou pra violência; uma mulher que o abandonou, lhe espancou - aquela que
apanhou calada (ou, não), ensinando ao seu rebento que é assim que se deve
tratar todas as mulheres; uma mulher que não lhe deu atenção, amor, cuidados e
forjou com lágrimas, com o fogo do inferno e uma infância violada, o adulto em
que se transformou. Não há poder maior do que o que procede do vínculo
maternal. Se as mulheres usassem esse poder pelo bem da espécie, se fossem
amparadas para o bem cumprimento desse papel (cadê as creches de qualidade que
o Estado tem o dever de garantir?), talvez nossos presídios estivessem mais vazios,
nossas ruas mais seguras, nossas escolas menos violentas. Uma boa e uma má mãe
fazem toda a diferença para o equilíbrio do meio ambiente planetário.
O Dia
Internacional da Mulher tem sua origem nas questões de trabalho, direitos
sociais e políticos, os quais deveriam, conquistados, serem agregados aos
deveres da mulher na preservação da espécie. Isso seria absolutamente
ecológico. Pena que preferimos optar por isso ou aquilo e estamos fracassando,
porque a vida ainda não conseguiu substituto à altura para essa tarefa; não há
“dolys” que deem conta da falta, ou de uma má educação. Quando você ganhar sua
florzinha, seu presentinho pela data, pense nisso.
Publicado
com autorização da autora.
Este artigo também foi publicado no Jornal Correio do
Estado: http://www.correiodoestado.com.br/opiniao/maria-angela-mirault-dia-da-mulher-facam-me-o/241332/
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