Breve comentário inicial do titular deste blog, a
respeito da oportuna a publicação do Pediatra Integral.
Desde cedo tanto a menina como o menino, a família,
a escola, a sociedade como um todo vai sensualizando-os, diminuindo o período
da infância, de inocência, das nossas crianças. No dia da comemoração do
aniversário aquela música clássica é cantada: “Com quem será, com quem será que
... vai se casar. Vai depender, vai depender, se …”. Usa de
roupas com toque de adulto, sem falar do proveito que o marketing tira de tudo
isso para vender seus produtos.
Todos esses procedimentos alimentam de alguma forma
a pedofilia.
Depois de tudo isso qual a autoridade de cobrar
mudanças se na origem a própria sociedade é a grande fomentadora?
Me desculpem, mas eu que sou muito dado a ver razão
em muitos argumentos opostos, aqui vou ser radical. Radical porque sou
pediatra, milito contra a publicidade infantil e os males que causa (muitos),
porque defendo a infância e os direitos da criança, e me preocupo com o que a
sociedade e o mercado estão fazendo com ambas.
A Vogue publicou um ensaio fotográfico cujas fotos estão
aqui. No mural de um amigo, onde vi essa matéria, havia comentários do tipo “a maldade está nos
olhos de quem vê”. É muita cegueira não ver a gravidade dessa matéria. Quem não
vê está de tal forma mergulhado na parte apodrecida do universo da mídia e da
moda - que está amputando a infância dessas crianças - que perdeu inteiramente
o senso crítico.
São
meninas de 7, 8, 10 anos, apresentadas como mulherzinhas, lolitas, em poses
sensuais e provocantes. Bocas e pernas abertas, ameaças de tirar a roupa,
insinuações eróticas. É grotesco e absurdo e nojento sob TODOS os pontos de
vista.
Estimula a
pedofilia, sim. As poses são explicitamente sexualizadas. A erotização é
grotesca. Do ponto de vista da criança, transforma a menina numa mini-adulta,
promove sua objetificação (para quem lê a matéria e para quem posa) e estimula
os valores de consumismo, futilidade, modismo, beleza padronizada, maquiagem
como necessidade, adesão a marcas, tudo que o mercado quer e que danifica
corpos, mentes e almas das meninas – e dos meninos também, aliás, vítimas
quanto elas de uma cultura podre.
Como não perceber a
exploração evidentemente sexual e comercial maldosa dessas crianças? Esse tipo
de matéria estimula adultos a erotizar crianças e impedir que vivam os valores
mais simples e as brincadeiras naturais da infância. Elas não estão imitando saudavelmente
a mamãe roubando a maquiagem, não se iludam. Estão tendo sua infância amputada,
sendo forçadas num universo que não é o seu ... padrões impostos e perversos de beleza (olhem a magreza
das meninas) desde a idade escolar, onde deviam estar brincando de subir em
árvores e jogar bola ...
Não, meninas, vocês
têm que ser mini mulheres, mini peruas, fúteis, magérrimas, fazer dieta,
maquiarem-se, comprar roupas e acessórios. Tornem-se objetos de prazer e
admiração do mundo masculino. Acreditem que
sexualidade é aparência, é consumo, é performance. Esqueçam o afeto, o precioso
senso de intimidade. E isso tudo... aos 8 anos.
Outras consequências
da erotização precoce são graves e profundas. Altera as atitudes e crenças de
crianças, fixa padrões estéticos, favorece a anorexia (doença grave e as vezes
fatal), leva a alterações cognitivas, reduz a auto-estima. Estudos associam depressão e outros transtornos a esse
“moderno” fenômeno social. Além disso, a injeção destes valores desde muito
cedo vai ter consequências mais amplas, na sexualidade dos meninos também,
estreitando sua visão sobre a mulher e deformando seus padrões estéticos.
A revista deve uma
retratação ou merece um boicote. Ou um processo judicial.