Abnério Mello Cabral
“Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, ... ele converterá
o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais...” (Ml
4.5,6).
Manhã de domingo, 6 horas; Carlos e seu filho Pedro já
estavam de pé. Dia de pescaria. ... Às 7 horas em ponto, já esperavam diante da
portaria do pesqueiro com seus molinetes prontos para fisgar o primeiro peixe.
No decorrer do dia, enquanto Carlos e seu filho riam, conversavam, fotografavam
os peixes que fisgavam e cultivavam aquele clima de descontração e harmonia
entre pai e filho, três senhores de idade os observavam.
Ao cair da tarde, quando estavam juntando as “tralhas” para
ir embora, o senhor mais velho aproximou-se e disse: “Fiquei admirado ao ver um
moço tão jovem como você passar o dia com o filho de 9 anos. Você poderia estar
fazendo qualquer outra coisa, mas escolheu estar aqui com ele. Muitas vezes,
convido meu filho e meu neto para fazer isso, mas eles estão ocupados com
outras coisas. Meu neto só quer saber de tecnologia. Fiquei contente em ver seu
filho puxando o carrinho para ajudá-lo”.
Anos atrás, estudei o livro A Diferença Que o Pai Faz com
um grupo de homens. No decorrer das semanas, todos os homens foram relatando as
experiências ... Uma delas, ... chamou-me bastante a atenção. Seu pai o havia
levado, juntamente com seus irmãos, para andar de kart. Foi o dia mais feliz de
sua vida. Sua expectativa, durante muito tempo, foi que aquilo se repetisse,
porém nunca ocorreu. Acabou sendo uma experiência única.
Relacionamento e
ocupações
Quando leio o texto de Malaquias, são exatamente essas coisas
que me vêm à mente: uma conversão do coração dos pais aos filhos e dos filhos
aos pais. Relacionamento é o primeiro e grande problema que enxergamos hoje na
sociedade em que vivemos ... Os relacionamentos foram minados, roubados. Homens
extremamente ocupados, filhos vidrados em jogos, celulares e internet.
O relacionamento entre pais e filhos está ligado ao
conhecimento vivo de Deus. É pelo relacionamento entre pais e filhos que a
natureza de Deus é revelada aos filhos.
Quando nós, os pais, deixamos esse relacionamento por causa
de qualquer outra situação externa, a família sai perdendo, o que não contribui
para o seu crescimento espiritual rumo a uma vida com Deus.
Três homens, três legados
Quando Abraão encontrou-se com Deus, passou a
dedicar toda a vida ao propósito de Deus. Quando ele saiu de sua terra em
direção à voz que tinha ouvido, logo recebeu uma promessa que o fez pensar em
como ela se cumpriria, pois já era velho e não possuía descendente. A conclusão
de Abraão foi exatamente o que Deus queria. Agora, Deus poderia começar uma
família e estabelecê-la como base na Terra, com a finalidade de cumprir seu
propósito.
No caso de Davi, temos o mesmo enfoque. Deus escolheu
Davi para estabelecer o Reino de Israel na Terra de modo que se assemelhasse ao
Reino vindouro eterno. Salomão, seu filho, cumpriu o legado e estabeleceu o
reino que o pai havia iniciado.
Infelizmente, Salomão não teve o mesmo coração de adorador de
Davi. Mesmo assim, a ênfase dos profetas posteriores era que Deus levantaria um
descendente da casa de Davi para reinar eternamente e estabelecer o trono sobre
todas as nações. Jesus veio da descendência de Davi e voltará para reger as
nações com vara de ferro.
Um terceiro homem que gostaria de mencionar é José, “pai
de criação” de Jesus. Por um momento de sua vida, pensou estar vivendo um dos
piores pesadelos. Sua noiva estava grávida e ainda dizia que era do Senhor, mas
como isso poderia ser?
José era um homem honrado, sério, de boa reputação. No íntimo
de seus pensamentos, intentava deixar Maria, ... Contudo, ele foi achado digno
de continuar o legado do próprio Deus na Terra. Deus lhe falou enquanto dormia
por meio de um anjo (Mt 1.19-20). Depois que o anjo apareceu essa primeira vez
a José em sonhos, apareceu outras três vezes (Mt 2.13,19–20, 22).
José foi um homem que aprendeu a ser dirigido pela voz de
Deus. Jesus teve um pai na Terra que aprendeu a ouvir o Pai celestial. Veja que
legado maravilhoso – aprender a ouvir Deus, mover-se à medida que ele falava.
Nosso lazer em família deve ser priorizado acima de desejos e
ambições pessoais. Essas são decisões que precisamos tomar. Nossa família
seguirá o rumo que nós colocarmos diante dela. Nossos filhos considerarão
importante aquilo que nós sinalizarmos como algo essencial para a vida.
Dificilmente farão aquilo que não virem os pais fazendo.
Converter o coração dos
pais aos filhos…
O homem precisa ser restaurado, curado das muitas coisas que
permitiu que entrassem em seu coração. Deus escolheu o homem para representar
sua paternidade na Terra. Não quero dar um jeitinho aqui para incluir a mulher.
Isso é muito sério, pois o homem abandonou seu papel e, hoje, muitas mulheres
ao redor do mundo estão pagando um alto preço por isso.
Deus quer e vai restaurar o coração dos pais, dos homens aos
seus filhos. É aqui que começa a restauração da família. Quando o homem deixou
de ser o provedor principal de sua casa, também deixou de governar com eficácia
seus filhos. O coração do homem não só se voltou contra seus filhos, mas também
contra o propósito de Deus.
Não é assim necessariamente em todas as famílias, mas
geralmente é a mãe que manda escovar os dentes, arrumar o quarto, fazer a
tarefa escolar, ajudar com os afazeres da casa, parar de brincar para estudar,
tomar banho, comer. Ela é mais presente na vida dos filhos. Muitas mulheres,
mesmo trabalhando fora, quando chegam em casa, fazem exatamente isso com os
filhos. Em nossa cultura machista, todas essas são consideradas tarefas de
mulher.
Corrigir os filhos é tarefa para os homens, mas as mulheres
acabam exercendo esse papel por omissão deles. Em muitos casos, os filhos,
depois de grandes, dizem: “Meu pai era um santo, nunca bateu na gente. Já a mãe
era mais dura, vivia no nosso pé; mandava e batia”. Infelizmente, essa é uma
realidade dentro de muitas famílias em que os homens abdicaram de seu papel.
As reuniões escolares estão cheias de mães sem marido; nos
parques e supermercados, muitas mulheres estão sozinhas com os filhos. O homem
sempre utiliza a desculpa de que está trabalhando e, assim, leva os filhos para
o sacrifício, rompendo o relacionamento, perdendo o contato, por não participar
de pequeninos acontecimentos no desenvolvimento dos filhos, que somados vão
gerar o desenvolvimento integral.
Há necessidade de arrependimento para voltarmos ao rumo, ao verdadeiro
sentido da vida e da família. Precisamos tomar uma decisão sobre o quão
importante realmente é vivermos como família. Quanto cada um realmente precisa
ganhar para sustentar a família, sem deixar perder as oportunidades que nos são
oferecidas a cada etapa do desenvolvimento de nossos filhos? Tenho dito para
alguns pais: é melhor obedecer do que sacrificar.
Qual é o legado que você está deixando para seus filhos?
Fonte:
https://www.revistaimpacto.com.br/restauracao-da-familia-comeca-com-a-restauracao-dos-homens