sexta-feira, 17 de agosto de 2007

O PASTOR, O PADRE E A VINCULAÇÃO PARTIDÁRIA

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Manoel Soares Cutrim Filho *

No Velho Testamento, ao escolher uma das tribos descendentes de Jacó, a de Levi, na visão de Deus era no sentido de que os levitas não tivessem herança na terra, senão as cidades em que habitassem (Js 14:4). Muitas vezes eles exerciam o papel de juiz, logo tinham que ser imparciais (I Cr 23:4), quando isso não foi obedecido o povo entrou em decadência, Ne 13:10-12.
Dificuldades, e não poucas, têm surgido nas igreja cristãs, quando padres e pastores resolvem participar da política partidária. 
Depois de Israel ter se estabelecido como nação, não me lembro dentro da História Bíblica, que Deus tenha levantado algum descendente de Levi, libertar o seu povo, quer no tempo dos juízes, quer no tempo dos reis. Lembro-me sim, que o início da derrocada de Saul foi desejar exercer o sacerdócio além de ser o Chefe Político da nação. Desconheço qualquer governante na história desse povo, fazendo às vezes de sacerdote e rei, ou vice-versa. Aí está um princípio: cada um segundo a sua vocação divina.
O que mais caracteriza um juiz é sua imparcialidade. Pelas leis brasileiras, um juiz para candidatar-se a algum cargo político-partidário tem que primeiro renunciar à magistratura. Isto não significa pedir licença temporária, mas deixar de ser juiz, este é um princípio sábio, pois do contrário, a sua imparcialidade estaria comprometida.
Um padres ou pastor na sua igreja local é o fiel da balança; deve ser imparcial. Na sua comunidade eclesiástica, um pastor é muitas das vezes, um juiz de fato.
Quando um líder religioso resolve filiar-se a um partido político, torna-se partidário e, portanto, parcial. As circunstâncias ficam mais graves se houver um membro da igreja que é de outro partido, surgindo desse modo, facções na congregação, que trazem inexoravelmente sérios problemas para a saúde espiritual da mesma. Seria bom que os líderes cristãos estivessem mais atentos para esse aspecto.
Entendo que os discípulos de Jesus devam ter as suas atuações político-partidárias. Esse é um papel precípuo daquele que não exerce cargo de liderança pastoral.
O pastor e o padre podem e devem orientar os seus liderados sobre o perfil de um candidato, no que se refere ao caráter, se governa bem a sua casa, seus negócios, se tem vocação para a vida pública, se é comprometido com a justiça e a verdade, condições essenciais para o cargo pleiteado. É muito importante, também, que orientem o povo no exercício da cidadania, no tocante aos seus deveres e direitos.
Os pastores cristãos podem ter um papel profético na história do nosso país, orando e aconselhando os nossos líderes políticos, quando procurados por estes. aqueles que têm imparcialidade têm autoridade espiritual para confrontar os reis e os poderosos.
Certa vez, estando em contado com um determinado irmão, pastor de uma grande igreja em Brasília, ele disse-me que tinha sido convidado para concorrer a um cargo de Senador pelo Distrito Federal, mas sabiamente respondeu que não poderia porque tinha sido eleito para outro cargo, o de Ministro do Evangelho. Sei que ele tem orado e aconselhado vários políticos e, com isso, sido fiel para com a sua vocação pastoral.
Na prática, todos os líderes que conheci e conheço, que se aventuraram a uma candidatura de um cargo político-eleitoral, tiveram os seus ministérios anulados ou seriamente comprometidos. Quanto aos que foram eleitos, desconheço que se tornaram um expoente político da nação. Entendo que somente aqueles que não são vocacionados trocam o seu ministério pastoral por um cargo político-partidário, temporário.
Na nossa cultura quem melhor representa a igreja é o clero, um líder religioso, filiando-se a um partido ele está automaticamente vinculando a respectiva congregação que ele lidera a esse partido, mas a igreja como instituição, é suprapartidária. Esta é mais uma das razões que um padre ou pastor não deve ser filiado a um determinado partido político.
Nesta matéria, parece-me que, aqui no Brasil, a Igreja Católica tem sido mais sábia que a Evangélica, pois oficialmente não recomenda que seus clérigos se candidatem a cargos político-Eleitorais. A sua forma de influir no Congresso Nacional e na sociedade é por meio de entidades e políticos de sua confiança. Com isso, tem sido mais eficaz em suas ações, evitando, por conseguinte, desgastes que inexoravelmente viriam se tivesse candidatos oficiais nas eleições.
Ao aproximar-se de mais um pleito eleitoral, seria bom que os nossos líderes cristãos procurassem entender melhor e aplicar esse princípio de um Estado Laico (Estado separado da religião), que sabiamente o nosso Deus consignou há milhares de anos atrás, por meio de vocações diferenciadas. Tenha cuidado irmão, de não colocar uma “ de calno ministério do seu pastor ou padre, ao votar no mesmo, neste próximo pleito eleitoral.


* Manoel Soares Cutrim Filho, cristão, patriota, conservador, graduado em direito pela UNB, militou como advogado por mais de vinte e cinco anos. Ex-Auditor Federal de Controle Externo do TCU.
Colaboração: Eliane Soares de Resende, Igreja de Cristo da Fama, Goiânia – GO, professora de linguística, com mestrado pela UNB. 

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